Há mais de uma década o Coletivo Comum iniciou uma pesquisa sobre patriarcado e capitalismo. O projeto Carne, entre muitas atividades (mostra de filmes, oficinas, debates), incluía um trabalho cênico sobre a violência de gênero. A peça foi apresentada mais de 300 vezes entre 2010 e 2019, quase sempre em parceria com movimentos e organizações sociais, sobretudo coletivos de mulheres e feministas. Em março de 2021, o trabalho foi apresentado, na forma de cenas comentadas, no Teatro Flávio Império; em maio integrou a Mostra Brava Companhia e em dezembro fez parte do evento 21 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência Contra as Mulheres, organizado pelo Conselho Regional de Psicologia de São Paulo.
Esta nova etapa do trabalho pretende socializar os procedimentos exercitados na trajetória de estudos, criação e apresentação do trabalho cênico Carne e suas reverberações, gerando novas trocas com artistas mulheres e pensadoras que tiveram contato com a obra.
Na esteira de uma consistente tradição teatral, como o agitprop e o teatro do oprimido de Augusto Boal, um dos objetivos da proposta de cenas comentadas é fornecer instrumentos teórico-conceituais e técnico-práticos para a multiplicação criativa de ações teatrais inspiradas nas estratégias e nos procedimentos exercitados em Carne.
O trabalho consiste na apresentação de cenas selecionadas da peça original, incluindo, quando for o caso, elementos de sonoplastia e projeção de vídeo e intervenções teóricas e práticas. Estas cenas e intervenções serão analisadas, abordando, entre outros aspectos, o processo de criação, as versões não aproveitadas em cena e a recepção nos diferentes contextos. Dramaturgia e encenação serão objeto de debates, à luz dos objetivos estéticos e sociais do trabalho.